Cristina Costa Publicado em 26/09/2024, às 09h29
A prévia da inflação referente ao mês de setembro apresentou resultados que surpreenderam analistas, refletindo uma leve desaceleração que, embora pareça pontual, traz boas notícias no aspecto qualitativo.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou uma alta de apenas 0,13%, acumulando 4,12% nos últimos 12 meses.
Este resultado contraria as expectativas mais pessimistas que circulavam anteriormente. A desaceleração observada se deve, em grande parte, a uma combinação de fatores, incluindo promoções em serviços e mudanças nos preços de bens essenciais.
Serviços subjacentes: uma surpresa abaixo do esperado
Os serviços subjacentes apresentaram um desempenho abaixo das previsões. Enquanto esperávamos uma alta de 0,31%, o índice efetivamente ficou em 0,0%.
Esse resultado se deve principalmente a quedas significativas em itens como cinema, impulsionado pela "Semana do Cinema" com preços promocionais da rede Cinemark, e em seguros de automóveis, que tiveram uma redução de 2,53%. Esses movimentos refletem uma desaceleração que se espalhou por diversos setores.
Além disso, a média dos núcleos de serviços, que também inclui elementos como despesas com cabeleireiro e consertos de automóveis, trouxe resultados inesperados: esperávamos 0,31%, mas o que vimos foi uma modesta alta de 0,18%.
Com essa dinâmica, os serviços subjacentes ajustados sazonalmente desaceleraram para 3,85%, comparado a 5,02% em agosto. Essa tendência é um sinal positivo, indicando que a pressão inflacionária pode estar diminuindo.
Uma notícia animadora foi a performance dos serviços intensivos em mão de obra, que acumulam uma alta de 5,22% nos últimos 12 meses.
Observando a métrica dessazonalizada e anualizada, essa alta caiu de 4,43% para 3,79%. Este é um indicativo de que a inflação nesse segmento pode estar se estabilizando, o que é encorajador para o cenário econômico.
Além disso, nossa métrica de serviços inerciais, intimamente ligada aos serviços intensivos em mão de obra, atingiu seu nível mais baixo desde setembro de 2022, alcançando 3,98% na média móvel de três meses.
Essas informações sugerem que o mercado de trabalho, apesar de robusto, pode estar se ajustando, permitindo uma desaceleração gradual da inflação.
Olhando para frente, projetamos que os serviços intensivos em mão de obra encerrem o ano com uma alta de 5,3%, enquanto os subjacentes devem ficar em torno de 5,8%, um aumento significativo em relação aos 4,80% de 2023.
Essa previsão sugere que, embora a pressão inflacionária esteja se amenizando, ainda existem fatores de risco associados às condições favoráveis do mercado de trabalho.
É importante ressaltar que a expectativa para a Selic é de que ela suba para 11,5% até janeiro de 2025, refletindo uma política monetária que busca conter a inflação. Esses ajustes devem ocorrer em um ritmo de 25 pontos base, especialmente considerando que a inflação atual é mais moderada do que se imaginava.
Entretanto, as surpresas altistas na inflação vieram do setor de alimentos, que apresentou uma deflação menor do que o esperado. Com uma variação de -0,01% contra -0,34% previsto, os produtos in natura, especialmente carnes, aves e ovos, foram os responsáveis por essa dinâmica.
A expectativa é que este grupo de alimentos se recupere, atingindo uma alta de 0,48% ao final de setembro e superando 1% nos últimos dois meses do ano, impulsionado especialmente pela carne bovina.
Por outro lado, o setor de bens duráveis continua a mostrar uma pressão significativa, resultado da dinâmica de repasse cambial. Com uma alta projetada de 2,9% ao final do ano, em comparação com apenas 1,1% em 2023, os bens duráveis, especialmente automóveis, permanecem como um risco inflacionário no horizonte.
Em resumo, a prévia da inflação de setembro revela uma complexa interação entre desaceleração e pressões em diferentes setores da economia.
Com uma projeção de IPCA em 4,6% para 2024 e 4,20% para 2025, observamos que, apesar das incertezas, há motivos para otimismo moderado. É fundamental continuar acompanhando as variáveis econômicas, pois elas influenciam diretamente a vida de todos nós.
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