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A Recuperação Judicial da Avon em 2024 e a Crise das Grandes Empresas: Lições e Perspectivas

Veja o Impacto da Recuperação Judicial da Avon

A Recuperação Judicial da Avon em 2024 e a Crise das Grandes Empresas: Lições e Perspectivas - Reprodução
A Recuperação Judicial da Avon em 2024 e a Crise das Grandes Empresas: Lições e Perspectivas - Reprodução

No segundo semestre de 2024, o mercado corporativo foi surpreendido por mais uma grande empresa em dificuldades: a Avon Products Inc. (API), subsidiária da Natura & Co, solicitou recuperação judicial nos Estados Unidos através do processo conhecido como Chapter 11, equivalente à recuperação judicial no Brasil.

Esse evento ilustra como mesmo corporações robustas podem se ver diante da necessidade de reestruturar suas operações em tempos de incerteza econômica.

Para sustentar a continuidade das operações, a Natura & Co, principal credora da API, disponibilizou um empréstimo de US$ 43 milhões no formato DIP (Debtor-In-Possession). Além disso, a Natura comprometeu-se a investir US$ 125 milhões para manter as atividades da API fora dos Estados Unidos, por meio de um leilão supervisionado pela justiça americana.

Esse processo permitirá a venda de ativos da Avon, possibilitando que a Natura & Co faça ofertas para preservar a operação da marca em regiões como Ásia, Europa e África.

O contexto amplo da crise das grandes empresas

A situação da Avon reflete um cenário global de dificuldades enfrentadas por grandes corporações, especialmente no Brasil. Nos últimos meses, companhias como Gol Linhas Aéreas, Americanas, Casas Bahia, 123 Milhas, Oi, Marisa, Nexpe (Brasil Brokers) e Tok&Stok também buscaram proteção judicial, motivadas por severas dificuldades financeiras.

O denominador comum entre esses pedidos é a necessidade de renegociar dívidas e reestruturar operações para evitar a falência.

Altas taxas de juros têm sido um dos maiores desafios para essas empresas. No Brasil, apesar de pequenas reduções recentes, a taxa Selic ainda é elevada, encarecendo o crédito e dificultando a recuperação do consumo.

A inflação e a redução do poder de compra da população afetam diretamente o lucro das empresas, enquanto a instabilidade econômica e política gera um ambiente de incerteza para investidores.

Setores mais afetados e desafios do varejo

O setor varejista e de serviços tem sofrido de maneira mais intensa, já que a retomada das vendas não ocorre na velocidade necessária para criar o fluxo de caixa indispensável ao pagamento de dívidas.

A combinação de juros altos com margens de lucro reduzidas forma uma equação perigosa para essas empresas.

Denis Barroso, sócio da Barroso Advogados Associados e especialista em recuperação empresarial, ressalta:

"O mercado brasileiro, assim como outros ao redor do mundo, enfrenta dificuldades significativas pós-pandemia, somadas às flutuações globais. Muitos grandes players precisaram recorrer a empréstimos para sobreviver, mantendo operações deficitárias para evitar o colapso total."

A crise global e seus reflexos locais

As dificuldades enfrentadas por grandes empresas no Brasil não são isoladas. O cenário econômico mundial está pressionado por taxas de juros altas, que elevam os custos de capital e restringem o consumo. Benito Pedro, sócio da Avante Assessoria Empresarial, pontua que

"a forma como as empresas vão lidar com esses desafios depende do grau de comprometimento financeiro em que se encontram. Algumas poderão reestruturar-se internamente, enquanto outras precisarão de soluções mais profundas, como a recuperação judicial."

Pedro destaca ainda que, embora cada empresa possua uma realidade distinta, o colapso de grandes corporações pode gerar instabilidade no mercado, dificultando a obtenção de crédito e criando o risco de uma recessão mais ampla, que teria impacto direto nas exportações brasileiras.

Soluções em tempos de crise

Estratégias para Superar Dificuldades Financeiras

Em tempos de crise, é essencial que as empresas estejam preparadas para lidar com desafios inesperados. Denis Barroso aconselha:

"Nenhuma empresa está imune a dificuldades. O segredo está em investir continuamente em uma gestão eficiente e em controles internos que possam identificar problemas antes que se agravem."

Quando uma crise financeira se instala, a recuperação judicial pode ser uma alternativa viável. Esse processo permite que a empresa reorganize suas dívidas e se reposicione no mercado, sem precisar recorrer à falência imediata.

No Brasil, esse procedimento é regulamentado pela Lei de Recuperação de Empresas (Lei 11.101/2005), que oferece às empresas em dificuldades um mecanismo para evitar a falência, enquanto tentam reequilibrar suas finanças.

Alternativas à recuperação judicial

Embora a recuperação judicial seja uma opção importante, outras alternativas podem ser consideradas antes de tomar essa decisão.

A negociação direta com credores, a venda de ativos não essenciais, a busca por investidores ou a reestruturação voluntária são algumas das opções viáveis para empresas que ainda têm margem para ajustes.

Segundo Barroso, "cada caso é único, e a decisão pela melhor estratégia depende das circunstâncias específicas de cada empresa. Buscar orientação especializada é fundamental para avaliar as opções disponíveis e tomar decisões informadas."

Lições para o futuro

No atual cenário de crise global, as empresas precisam estar prontas para se adaptar rapidamente às mudanças do mercado.

A gestão financeira saudável, aliada ao investimento em inovação e à capacidade de adaptação, será essencial para garantir a sustentabilidade dos negócios nos próximos anos.

Mesmo diante das dificuldades, há sempre lições valiosas a serem aprendidas, e os exemplos recentes de grandes empresas mostram que, com as estratégias corretas, é possível superar os desafios financeiros e garantir a continuidade das operações.