O mercado imobiliário brasileiro atingiu recordes históricos em 2024, mas os desafios com a Selic alta podem desacelerar o setor em 2025.
Em 2024, o mercado imobiliário brasileiro experimentou um dos seus melhores anos, alcançando marcos históricos de vendas e lançamentos de imóveis. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o setor obteve um crescimento impressionante de 25% em comparação com o ano anterior, o que foi considerado um recorde na história recente do mercado imobiliário.
O presidente da Abecip, Sandro Gamba, destacou que 2024 se configurou como o melhor ano do setor, impulsionado por um aumento significativo da renda real da população. Esse cenário favoreceu a aquisição de imóveis, principalmente através de financiamentos.
O programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, teve um papel determinante nesse resultado, especialmente com a utilização do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para viabilizar o financiamento de casas e apartamentos.
O financiamento imobiliário no Brasil, fundamental para sustentar esse crescimento, alcançou a marca de R$ 312,4 bilhões em 2024.
A maior parte desses recursos provém do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e do FGTS. Esses mecanismos permitiram que muitas famílias adquirissem imóveis próprios, impulsionando ainda mais a economia.
O SBPE teve um papel destacado no aumento do crédito imobiliário, especialmente na compra de imóveis usados, com um crescimento de 22%.
Isso, apesar da captação líquida negativa de R$ 21,7 bilhões, mostrou que o mercado conseguiu se adaptar ao cenário de alta da taxa Selic, que, teoricamente, deveria ter um impacto mais negativo.
Embora a alta da Selic tenha gerado um aumento no custo do crédito, o impacto imediato sobre o financiamento imobiliário foi limitado. A Abecip acredita que, caso a taxa Selic continue elevada por um longo período, os efeitos mais pesados poderão ser sentidos a partir de 2025.
Além do aumento no volume de financiamentos, os preços dos imóveis no Brasil também apresentaram uma valorização superior à inflação em diversas cidades, conforme o Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R) da Abecip.
A valorização foi de aproximadamente 12,7% em 2024, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, ficou em 4,83%. Isso demonstra que os imóveis se tornaram ainda mais valiosos, superando a inflação de forma significativa.
Esse aumento nos preços dos imóveis pode ser explicado pela absorção gradual do estoque de imóveis disponíveis para venda. Como resultado, a oferta foi se ajustando à demanda, levando a um crescimento no valor de mercado.
Contudo, a pandemia, que inicialmente impulsionou a procura por imóveis, ainda tem efeitos sobre o setor. A demanda, embora forte, começou a desacelerar um pouco em 2024, com uma expectativa de que esse ritmo de crescimento diminua ao longo de 2025, em razão de uma possível redução no volume de crédito disponível.
Em 2025, as previsões para o mercado imobiliário indicam que os efeitos da taxa Selic elevada começarão a ser mais evidentes.
A Abecip projeta que os financiamentos pelo SBPE se mantenham sólidos, com um total aproximado de R$ 155 bilhões, enquanto os recursos provenientes do FGTS deverão crescer cerca de 1%, somando aproximadamente R$ 126,8 bilhões.
No total, espera-se que o mercado imobiliário movimente cerca de R$ 282 bilhões em 2025, o que representa uma redução de aproximadamente 10% em relação aos números de 2024.
Esse cenário de desaceleração pode ser consequência do aumento da Selic, que eleva o custo do crédito e torna o financiamento mais difícil para muitas famílias. Isso pode afetar diretamente o volume de lançamentos e a venda de imóveis, com uma provável diminuição na quantidade de novas construções e transações imobiliárias.
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Em contraste com a redução nas fontes tradicionais de financiamento, como a poupança e o FGTS, o mercado de capitais tem ganhado relevância nos últimos anos.
Instrumentos financeiros como o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) têm se tornado cada vez mais populares como alternativa para financiar o setor imobiliário. Apesar disso, as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) perderam parte da atratividade devido ao aumento do custo de liquidez.
Com isso, a diversificação das fontes de crédito pode ajudar a mitigar os impactos da alta da Selic. Os agentes financeiros têm se adaptado, buscando novos caminhos para manter o financiamento do mercado imobiliário e garantir a continuidade dos investimentos nesse setor.
A expectativa é que, mesmo com o cenário mais desafiador, a adaptação às novas condições econômicas permita que o mercado se mantenha estável.
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Embora o mercado imobiliário enfrente desafios com a taxa Selic elevada, há uma perspectiva positiva de adaptação.
A absorção gradual do estoque de imóveis novos pode continuar, mas o ritmo de lançamentos e vendas será mais modesto, dado o aumento no custo de crédito e a diminuição das fontes de financiamento.
Dessa forma, é provável que as construtoras e incorporadoras ajustem suas estratégias para atender a um público com mais restrições financeiras.
A adaptação dos agentes financeiros e a diversificação nas fontes de crédito serão fundamentais para garantir a estabilidade do mercado.
As inovações financeiras, como a utilização de CRIs, podem ser um caminho viável para evitar uma queda acentuada nas vendas de imóveis e continuar o crescimento do mercado.
Em suma, o mercado imobiliário brasileiro teve um ano de recordes em 2024, mas enfrenta desafios consideráveis em 2025 devido à taxa Selic elevada.
As perspectivas para 2025 apontam para uma desaceleração no volume de financiamento e uma redução no ritmo de valorização dos imóveis.
No entanto, a adaptação do mercado financeiro e a diversificação das fontes de crédito podem contribuir para manter a estabilidade do setor.
Portanto, é fundamental que investidores, construtoras e famílias que pretendem adquirir imóveis estejam atentos às mudanças no cenário econômico e financeiro.
Embora o cenário de 2025 seja mais desafiador, o mercado imobiliário continuará sendo um pilar importante da economia brasileira, com potencial de adaptação para superar as dificuldades que surgirem.
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